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Crônica 11 - Fechando o Nordeste do Brasil.

Despedir da amiga Lusa foi tarefa difícil. Fiquei em bons lugares, conheci muita gente bacana e saudasa até o momento, no entando, eu nunca havia criado tanto intimidade com uma anfitriã. A alegria na casa da Lusa é contagiante e vai morar num cantindo especial e inesquecível nas lembranças.


Rua Portugal, Centro Histórico.

Saí de Barreirinhas por volta das 14h em direção a capital São Luís. Não costumo pedalar pela mesma estrada duas vezes, por isso, o retorno fiz de ônibus. Paguei R$45,00 pelo trecho e por sorte não paguei pelo volume da bicicleta. Como a estrada sempre reserva ótimas vivências, tive a sorte, talvez abençoada e desejada por Lusa e todos os amigos dela que conheci, de ter encontado uma nova família. Fui muito bem recebido e acomodado.

Chegar na capital do Maranhão teve um significado importante pra mim, primeiro porque eu estava cada vez mais próximo de encerrar minha aventura pelo Nordeste do Brasil, numa região onde a diferença com todo o resto do país é significante deste a colonização. São Luís foi povoada por franceses, é uma das capitais ilhas chamada de Upaon-Açu (denominação dada pelos índios tupinambás que significa "Ilha Grande"), e tem grande importância pra região Norte brasileira. Tem nas fachadas das casas e palácios a marca característica da arquitetura do lugar: a maior coleção de azulejos da América Latina. É rica em manifestações culturais, como: o bumba-meu-boi, tambor de crioula, cacuriá, dança portuguesa, quadrilhas juninas, reggae e outras.


Rua da estrela, 124, Centro Histórico.

São Lúis é considerada como a capital do reggae no Brasil e também é chamada de "A Jamaica brasileira". O gênero musical é amplamente prestigiado. No Centro Histórico, à Rua da estrela 124, é possível visitar o Museu do reggae que preserva e estuda esta influência musical no Estado. Mas o Maranhão não é somente ritmo, a culinária, bastante particular, tem cores e sabores únicos. Provar o açaí tradicional, puro, acompanhado com peixe seco, carne ou camarão, com farinha de puba ou tapioca, está na lista de qualquer turista que venha pro Maranhão. Principalmente na região de Morros e Axixá onde o fruto é popularmente consumido e chamado de Juçara. O nome, aliás, é a primeira descoberta. Nada de chamar o açaí de açaí, aqui é Juçara. Eu tenho tomado a Juçara dia sim, dia não. Além de gostar muito do novo sabor, é barato, nutritivo e facilmente encontrado nas ruas. Nas sorveterias daqui também vendem o açaí como conhecemos na Bahia, com frutas e acompanhamentos que dão a cara de sobremesa, no entanto, menos versátil. O Maranhão tem cheiros e cores bem peculiares. Aqui experimentei o Mucuri, Bacuri (frutos da região), e o Xibeu (uma espécie de molho lambão com farinha de mandioca), já a panelada e o sarrabulho não tive interesse (miúdos do porco ou boi cozidos no leite coco babaçú).


Pátio Interno do convento e Igreja do Carmo.

Das muitas lendas urbanas a talvez a mais popular e que me chamou atenção é sobre a empresaria Ana Jansen. Mãe solteira, Ana enfrentou o preconceito e as dificuldades até conhecer e se casar com o homem mais rico da cidade, o empresário coronel Isidoro Rodrigues Pereira. Após a sua morte, Ana teve papel crucial na administração da fortuna da família. Reconquistou o respeito da sociedade e comandou a maior produção de algodão e cana-de-açúcar do império, além de ter o maior número de escravos da região. Por ser mulher e obter uma posição de estatus, era muito mal vista e começaram a surgir boatos sobre a sua crueldade. Contam os historiadores que Ana maltratava bastante seus escravos. Dessa forma, após a sua morte, a lenda de que sua alma estaria vagando numa carroagem pelas ruas do Centro Histórico se transformou em folclore e costuma ser contado. Hoje Donana, como também era conhecida, é vista como símbolo de resistência feminina, além de atrair diversos turistas e curiosos para os lugares por onde passou. É possível visitar o túmulo da Ana Jansen na ingreja de Santo Antônio, Centro da cidade.


Vista para Baía de São Marcos.

Passei o Natal com a família do Jessé e além de bons e novos amigos eu pude conhecer bastante sobre São Luís. Cada volta de carro com o Jessé era uma imersão profunda na história da cidade e suas personalidades da época. Tudo o que descrevi até agora aprendi com ele. Em sua casa, fiquei na minha própria suíte, cuidadosamente arrumada para a minha chegada. Ainda sinto saudade daquele quarto ventilado e relembrei, assim que entrei no quarto, das muitas noites em postos de gasolina e acampamentos selvagens. Aos poucos fui conhecendo sua família e, na noite de Natal, participei como ouvinte da troca de presentes do famoso Amigo Secreto. Momento mais do que especial para ouvir deles mesmos sobre os próprios membros da família. Foi muito divertido e, para minha surpresa, também ganhei um presente: uma rede garimpeiro. Muito útil para quem viaja paro o Norte do Nordeste e Norte do Brasil, as redes são bem utilizáveis, leves e compactas. Para quem está de bicicleta é indispensável. Tive a sorte de ganhar a minha de uma família que tanto sentirei falta. Em qualquer lugar onde estiver, lembrarei com carinho e gratidão o presente que me deram.

No fim de semana após o Natal fomos todos para a casa de praia da família que fica em Caúra, uma comunidade bastante pacata no município de São José de Ribamar. Casa cheia, alegre, com muitas comidas e bebidas. Resultado, fiquei bêbado na companhia de quem resistiu até a madrugada.

O Centro de Ribamar, apesar de ser o segundo maior município da região de São Luís, é bem bucólico, com pracinhas bem decoradas para o Natal, poucas casas antigas preservadas e um vasto mar que ocupa quase que toda a vista. A igreja que leva o nome do padroeiro da cidade e a sua estátua estão num ponto bastante visitado por moradores e turistas. O vento constante tornam o lugar agradável para caminhar e fazer muitos registos.

Ainda no domingo conheci a praia de Ponta Vermelha a 40 minutos de Caúra. Deserta, de areia branca e fininha, é chamada assim por conta das falésias a frente que chamam atenção pelo tom avermelhado que se internsifica a depender da posição do sol.

Foquei totalmente minha atenção para aprender a dar o nó correto para quando utilizar minha rede. Tarefa nada fácil, exercitei diversas vezes o nó Direito e Cote até que senti seguro o suficiente para deitar na própria rede que amarrei. Confesso que esse exercício melhora até a autoestima, já que eu preciso confiar no nó que dei para sustentar meu corpo. Analogias necessárias e aproveitadas.

Chegamos bem tarde a capital, comemos, banhei e organizei os alforjes para deixar a casa do Jessé no dia seguinte. Até a virada do ano eu ficaria na casa do Eduardo, um estudante de gastronomia que me serviu pratos deliciosos e me contou sobre o sonho que tem de viver viajando num motorhome, cozinhando e aprendendo a culinária local do Brasil.



 
 
 

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