Crônica 17 - Fora Bolsonaro!
- @joaocabenaestrada
- 20 de jan. de 2021
- 3 min de leitura
Pensei em cancelar a crônica 17, mas, como preciso ser cronológico, preferi militar e dar um título a altura do projeto.
Agora sim, meu relato!
Eu não estava confiante e corajoso quando pedalei pela primeira estrada do Pará. Primeiro porque a reputação do lugar não agrada nenhum viajante, segundo, porque a estrada é de chão e esburacada. Assim que a mãe do Patrício encontrou a chave do portão eu pude me despedir e seguir viagem. Calibrei o pneu no último posto de gasolina quando, por sorte, encontrei um ciclista que me ajudou a encontrar a estrada correta. É difícil viajar por essa região do Pará porque mesmo numa PA importante como a 308, não existem placas direção. O Saulo foi um ótimo contato e , por causa dele, conheci pessoas incríveis em Bragança.

Enfrentei 60 quilômetros de estrada de chão em péssimas condições e diversos povoados: Vila Nova, Pequiateu, Tamixira - onde atravessei mais o rio Piriã em direção a Serra do Piriã, Açaiteua, Patauá e outros. Em Açaiteua descansei um pouco e comprei pão para lanchar pelo caminho. Sempre tenho: pão, azeite, tomate e orégano.
A estrada de chão vai até o povoado de Patal, de lá até Bragança são 15km de asfalto com poucos trechos de acostamento.

Assim que cheguei em Bragança dei um tempo na praça, falei com a família, atualizei as redes sociais, tomei uma Coca Cola por perto e foquei em conseguir um lugar para passar a noite. Minha intenção er seguir para a praia de Ajuruteua no dia seguinte.
Passei pelos três postos na saída da cidade pela PA 308 mas nenhum deles me agradou. Eu ficaria muito exposto em todos eles. Além disso, a atitude de um desconhecido ativou minha intuição dizendo para evitar aquele lugar. Depois do posto pensei em pedir abrigo na companhia da polícia militar, bombeiros, samu e, em último caso, pagar uma pousada simples. Recebi uma mensagem do Wedem, ciclista bragantino que me convidou para passar a noite em sua casa. O Wedem me encontrou na praça da catedral de São Benedito aonde conversamos um pouco e seguimos para o bairro Aldeia, onde ele reside.

Conheci sua companheira Patrícia e aproveitei para desmontar Jandira, limpar o barro dos alforjes e lavar algumas roupas. Aquela noite eu dormi muito aliviado por estar num local seguro.
A Patrícia me apresentou a Doca que logo fiz amizade e apelidei de Dora Aventureira. Nessa manhã, seguimos todos para a praia de Ajuruteua aonde a Dora tem uma casa suspensa bem tradicional feita com madeira. Eu e adora fomos pedalando enquanto Patrícia seguiu na frente para ventilar um pouco a casa. São 33 quilômetros de Bragança até a praia de Ajuruteua, fizemos em pouco mais de 3 horas. Nosso único desafio foi o vento contra, todo o resto era manguezal que fica numa Área de Proteção Ambiental.

A Dora me ensinou a tirar mexilhão e preparou alguns para o almoço. Eu conheci praticamente toda sua família e nos reunimos várias vezes. Nenhuma outra família me serviu tantos pratos diferentes. Mas creio que essa fartura se deve mais ao Estado do Pará do que a família propriamente dita. Aqui tem uma variedade tão espetacular de cores e sabores diferentes que faz o Pará ser o Estado que, em tão pouco tempo, ganhou disparado em novos sabores. O Bacuri continua sendo a minha fruta amazônica favorita e a Bacaba o creme mais delicioso com frango. O açaí ganha com a mesma proporção do Buriti com farinha lavada. Uma outra novidade pra mim. A farinha de Bragança é grossa como a do Maranhão porém infinitamente mais crocante. Ela realmente merece a fama que tem.
Foi na casa da Patrícia onde experimentei a Bacaba com farinha lavada e frango frito. Meu novo vício! Vai ser difícil não contar com esses novos sabores quando voltar para a Bahia.

Na noite da minha despedida, Salgadinho, o irmão da Dora, comprou algumas cervejas. Bebemos na porta e conversamos sobre a viagem. Conheci também o Silvio Ricardo que gentilmente comprou cinco cartões postais pelo dobro do preço. O Salgadinho fez muitos contatos em Capanema e conseguiu um cantinho pra mim na casa da Dyone. Conversamos bastante pelo WhatsApp e acertei de almoçar em seu estabelecimento, estava tudo organizado para o próximo destino.
No dia seguinte antes da viagem, tomei café na casa do Wedem e também da Dora, me despedi de todos e fui em direção a Capanema pela PA 308. Fiz 56 quilômetros em três horas, tudo contribuiu: vento, baixa altimetria, pouco movimento e longos períodos sem sol. Somente o acostamento não facilitou. Em Capanema tive uma surpresa importante que me deixou bastante feliz, um amigo do Wedem que conheci na estrada entre Viseu e Bragança, havia conseguido um bom lugar para eu descansar, a conhecida: Casa da Árvore.
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