Crônica 23 - Operação Cabe na Estrada.
- @joaocabenaestrada
- 1 de fev. de 2021
- 3 min de leitura
Todo o comércio da cidade estava fechado e tenho pensado que é um grande privilégio poder almoçar em casa, descansar e retomar as atividades às 15h. Eu havia chegado em Colares na hora do almoço e, a famosa Investigação militar conhecida como "Operação Prato", agora fazia mais sentido para o meu estômago. Grande parte do comércio de Colares ainda aproveita do turismo ufológico da década de 90 e anos 2000. Nas fachadas de bares, panificadoras, restaurantes e postos de gasolinas, os ET´s compõem a paisagem urbana do lugar. Existe também um outro lado do período mais tenebroso da cidade quando, por conta dos casos de avistamento de OVINI´s o município foi esvaziando gradativamente a passo que mais evidências foram sendo publicadas. Ainda é possível encontrar casas e pequenos comércios fechados há 30 anos.

Quando cheguei, fiquei na orla da cidade admirando a baía do Marajó e impressionado com a largura do rio. Estava nublado e mal consegui enxergar a outra margem. Aproveitei o tempo para atualizar o grupo de whatsapp da família e preparar um lanche. Comi o que sobrou da paçoca de amendoim com mel e xarope de guaraná. Aquilo me garantiu energia suficiente para buscar um local para passar a noite. Seria sinistro dormir no único posto de gasolina da cidade, reparando na placa do ET de Colares.

Fui até a prefeitura da cidade para tentar o que havia feito em Curuçá, tentar apoio na Secretaria de Assistência Social, que estava fechada como se fizesse parte do comércio. Tentei Couchsurfing e por último o Grindr que tem me salvador bastante também. No app conheci o Renan Reno que me convidou para ficar no sítio da família.
Afastado do Centro da cidade, o Sítio Girassol fica dentro de uma área de mata, onde estão construídas quatro casas dos parentes de Renan. A decoração bem tradicional com muitos extraterrestres nos muros e uma estátua de 1,68cm em frente ao portão de entrada. Lá eu conheci o Emerson, primo do Renan, seus tios e avós. Fui muito bem acolhido e recebido com café e pão caseiro. Após um banho, limpei os alforjes e conheci mais da vida dos meninos que estavam bem curiosos com o minha viagem. Em frente ao sítio, a figura mais conhecida da cidade, Neuton Cardoso, o homem que disse ter sido "atacado" pelos extraterrestes que apelidaram de chupa-chupa. O Neuton já participou de muitas entrevistas para emissoras nacionais e internacionais como a History. Ele não me permitiu que eu gravasse a entrevista em vídeo e, por muitas vezes, tentou tirar disso uma vantagem financeira. Conversamos e registrei seu relato sobre o que aconteceu na noite que foi surpreendido por seres de outro planeta.

A operação militar que ficou conhecida como Operação Prato aconteceu em 1978 e teve duração de quatro meses. Seu objetivo foi investigar as aparições de supostos objetos não identificados na baía do Marajó e na ilha de Colares. O fenômeno foi amplamente relatado pela imprensa que divulgou histórias de encontros traumáticos dos moradores com o que apelidaram de "chupa-chupa". Neuton Cardoso conta que, na noite que foi atacado, estava deitado na rede na varanda da casa de sua atual esposa quando acordou com um forte choque na região do pescoço. Ele conta também que era comum os moradores atirarem pra cima e acenderem fogueiras.
A conclusão do caso aponta que o fenômeno chupa-chupa estaria ligado a comportamentos sociais e a psique humana e os fenômenos originados de uma operação aérea estrangeira ou de natureza terrestre ainda não esclarecida.
No entanto, caminhar pelas trilhas tinha uma atmosfera assombrosa e conversar com os nativos sempre acabava em uma das histórias daquele período.
No segundo dia aproveitei para conhecer a praia do Machadinho onde iniciaram as aparições. A floresta nesta região já é bem próxima ao que eu viria no Amazonas. Caminhei pelas trilhas da praia, alonguei e conversei bastante com os meus anfitriões. Até aproveitei as aulas do Emerson que insistiu para que eu andasse de moto.

Naquela noite bebemos e experimentei um dos melhores pratos do Pará: Arraia guisada desfiada. Dormimos tarde após uma guerra de farinha de maizena e tinta. Uma típica festa de carnaval que disseram ser minha despedida de Colares.
No dia seguinte organizei a bicicleta, almocei e peguei a estrada tarde. Saí de Colares por volta das 14 horas em direção a Ananideua. 86 quilômetros que fiz em pouco mais de 4 horas. Um novo recorde! O terreno, baixa altimetria e temperatura ajudaram bastante. Chegando em Ananideua tomei um café no posto esperando a chuva passar e busquei um anfitrião no couchsurfing. Passei duas noites na casa do Raphael Cooper que mora no Centro da cidade, próximo do mercado Formosa e ponto de ônibus. Lá, tive a sorte de conhecer o Matheus de Amaral que me apresentou alguns pontos turísticos da capital Belém.

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